Os brasileiros já conviveram com a
escravidão; com a proibição do voto feminino; com a Ditadura Militar; com o
racismo; com a homofobia; com o machismo. Grande parte desses absurdos foi
superada e outra parte foi inibida pela lei. Mas a superação do atraso só
aconteceu depois de muita mobilização e luta! O maior movimento cívico
brasileiro foi “O Petróleo é nosso!”. Este movimento, que tomou o Brasil de
norte a sul e de leste a oeste, nas décadas de 1940-50, uniu comunistas e
conservadores, militares e civis. Um dos principais líderes do movimento foi
Monteiro Lobato, paulista da cidade de Taubaté, um fazendeiro que se
transformou em escritor, aliás, o principal autor brasileiro de obras infantis
e um dos maiores do mundo. Chegou a ser preso, na sua luta para provar que
havia petróleo no Brasil.
Lobato escreveu “O escândalo do
petróleo”. Nesse livro, o escritor se posiciona totalmente favorável à
exploração do petróleo apenas por empresas brasileiras.
Maria Augusta Tibiriçá Miranda,
médica, também uma das líderes desse movimento cívico, hoje com mais de 90
anos, escreveu um livro cujo título tem o nome da memorável campanha “O
Petróleo é nosso!”. Tibiriçá já profetizava que “a luta pelo petróleo
brasileiro não terminaria nunca”.
Precisamente agora, estamos em meio a
mais uma batalha dessa infindável guerra que já resultou em centenas de
perseguições, prisões, mortes. Inclusive o suicídio do presidente Vargas teve
como pano de fundo a questão do petróleo. Em seu governo, Getúlio criou a
Petrobrás e instituiu o monopólio estatal do petróleo.
Quando o petróleo era um sonho, fomos
protagonistas de uma das páginas mais emocionantes e marcantes de nossa
história. Como poderíamos imaginar que, depois de tudo isso, no momento em que
o petróleo brasileiro se torna realidade, há quem ouse defender os leilões!
Leiloar o nosso petróleo é o mesmo
que vender um bilhete premiado.
Como disse o brilhante ator Paulo
Betti, referindo-se ao pré-sal, no filme “O Petróleo é Nosso – A Última
Fronteira”: “… é como se encontrássemos um tesouro valiosíssimo em nosso
quintal e, então, entregássemos a outros, porque somos incompetentes para
administrá-lo!”.
Por mais de trinta anos, a Petrobrás
vem gastando bilhões de reais para descobrir o pré-sal, inclusive desenvolvendo
tecnologia inédita no mundo. Se investimos e acumulamos conhecimento nessa
tecnologia, como justificar a defesa dos leilões, para que estrangeiros
explorem e se apossem das nossas reservas de petróleo?
O pior é que, por trás das
multinacionais de petróleo, as mesmas que foram contra a criação da Petrobrás e
do monopólio e agora defendem com tanto ardor os leilões, está a conivência de
boa parte da mídia, da presidente da Petrobrás, Graça Fortes, do IBP e da
Firjam. Cedendo às pressões, o Governo brasileiro já anunciou a retomada dos
leilões para maio e novembro de 2013.
Infelizmente, a julgar pelos rumos
que esse debate vem tomando, tende a prevalecer a frase cinicamente pronunciada
pelo primeiro diretor geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), David
Zilberstein, ex-genro de FHC, em seu discurso de posse, falando à imprensa e a
representantes das multinacionais, declarou: “O Petróleo é nosso!”
Emanuel Cancela, diretor do Sindipetro do Rio de Janeiro
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